18 de junho de 2009

GRANJA CEARÁ BRASIL.

Os quiproquós políticos de Granja seguem atrapalhando a cidade, que ainda tenta juntar seus pedaços depois das cheias. Esmerino Arruda e Romeu Aldigueri, tio e sobrinho, disputam o poder local. A família briga e o respingo cai em quem foi prejudicado pelas chuvas.
Escrito por: Cláudio Ribeiro e Tiago Cafardo. em 11 de Junho de 2009.
Na rinha alagada, a disputa continua e os galos seguem brigando. Bem no meio da convulsão social de uma cidade de desabrigados, ainda lhes cai na cabeça a tempestade política. O temporal ainda não cessou na Região Norte cearense. Nem esse imbróglio de caciques. Tentar se refazer assim é muito mais difícil. Tudo vai se destruindo mais, em vez de recomeçar. Em Granja, a 352 quilômetros de Fortaleza, não ajuda em nada o entra-e-sai-e-exonera-e-reassume de prefeitos, que são da mesma família e apenas divergem sobre seus interesses em torno do lugar. Ontem foi o primeiro dia do novo mandato do ex-(agora atual de novo) prefeito Esmerino Arruda, 87, que é tio do agora ex-prefeito Romeu Aldigueri, que esteve no cargo por turbulentos 15 dias. Ninguém teve certeza, nas duas últimas semanas, sobre qual ganharia de vez o poder local. A reintegração de posse de Esmerino foi sacramentada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) na última segunda-feira. Aldigueri ainda segue esbravejando. E a cidade com isso? Tudo. Como se não bastasse o estrago das chuvas, que deixaram Granja esfacelada e inundada, ficou-se sem saber como as mazelas trazidas pelas cheias vão ser tratadas. Quem vai conter os efeitos da tromba d’água? A enxurrada afetou 8.410 granjenses. Isolou vários distritos e localidades. Alagou até a sede da Prefeitura, a Câmara Municipal e o Fórum. Derrubou casas e a produção agrícola local. Aldigueri foi içado de candidato derrotado nas eleições direto para a cadeira de prefeito, no dia 25 de maio, porque Esmerino foi acusado de fazer propaganda política antecipada, em seus discursos de rádio. Alegou que era montagem, a juíza da comarca não considerou o argumento e o sobrinho subiu. Veio o TRE e reassentou o tio. Aldigueri entrou, deu aumento para professores, mudou gestores. Voltou Esmerino, desfez todos os atos do inimigo de família e diz que retomará o curso do que vinha fazendo. Enquanto chovia e ventava forte ontem à tarde, Esmerino despachava de sua varanda. Conversava com assessores, recebia cumprimentos, ligações e atendeu O POVO numa entrevista. A Prefeitura está lá improvisada porque a outra continua encharcada. Os despachos do Fórum estão sendo no consultório odontológico público e a Câmara, não é piada, está com sessões na antiga cadeia pública. Uma das ideias de Esmerino, já contestada por vários, ainda é a de usar R$ 3 milhões que tem em caixa do dinheiro do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). O governador Cid Gomes e o presidente do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Ernesto Sabóia, foram dois dos que o criticaram publicamente. “Numa calamidade dessas, não existe equívoco jurídico nem técnico. Vão respeitar minha idade, não vão me botar na cadeia se eu usar e informar onde gastei”, defende-se. O “novo” prefeito de novo justifica que não poderá esperar até a chegada dos recursos federais, R$ 80 milhões previstos para socorro às cidades cearenses atingidas. “Só aqui são R$ 52 milhões necessários. São R$ 31.050.066 só em obras de infraestrutura”, aponta o secretário de gestão da cidade, Jander Filho. O coordenador da Defesa Civil local, Francisco das Chagas Araújo, o Neném, pede para ressaltar que “esse valor foi levantado pelos técnicos da Defesa Civil Estadual, não nós”. O município recebeu o maior quinhão de ajuda emergencial do Governo Estadual, R$ 500 mil. Esmerino diz ter gastado R$ 200 mil com alimentação para abrigados e quer o restante para recuperar estradas. Esmerino Arruda, que em 50 anos de carreira política já foi deputado federal, suplente de senador e prefeito outras vezes, admite que o desnorteio social e político ao mesmo tempo “atrapalharam muito realmente”. Ontem, durante o dia, O POVO não conseguiu localizar Romeu Aldigueri no telefone disponível em sua residência em Granja, nem no celular de Fortaleza. À noite, ele fez comício e prestou contas dos 15 dias que esteve à frente da Prefeitura. Também aproveitou para rebater as acusações do tio-adversário. A calamidade e a picuinha política segue respingando em quem mais precisa só de ajuda.

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